Com redução do caixa e endividamento e prejuízos maiores, os balanços do
segundo trimestre das principais empresas criadas pelo empresário Eike
Batista comprovam a situação delicada do grupo.
Ontem, foram anunciadas negociações para a venda do controle da
mineradora MMX, a exemplo do que já ocorreu com MPX, comprada pela alemã
E.ON, e LLX, que será vendida à americana EIG
Management Company.
A principal dúvida do mercado, agora, reside no futuro da OGX, que
fechou o trimestre com R$ 721 milhões em caixa, suficiente apenas para o
pagamento de compromissos que vencem no terceiro trimestre.
Juntas, OGX, OSX, MMX, LLX e MPX, fecharam o período com prejuízo de
R$ 5,3 bilhões e com apenas R$ 2,4 bilhões em caixa, volume 55% inferior
ao verificado no trimestre anterior. O prejuízo acumulado das empresas
cresceu 496%, inflado pelas perdas da OGX, que aumentaram de R$ 804
milhões para R$ 4,7 bilhões entre o primeiro e o segundo trimestres, com
forte influência de provisões para perdas nos investimentos em projetos
descontinuados na Bacia de Campos. Mas houve grande crescimento também
nos prejuízos de MMX (702%), OSX (660%) e LLX (564%).
Seguindo a estratégia de focar em negócios atrativos para aguçar o
interesse de eventuais compradores, o presidente da MMX, Carlos Gonzalez
informou que a empresa vai priorizar investimentos no projeto Serra
Azul, em Minas Gerais, e pode descontinuar as operações em Corumbá (MS).
No balanço do segundo trimestre, a companhia reconhece uma perda de R$ 154 milhões com reavaliação do
valor
do ativo, que tem altocusto logístico - o minério da região é
transportado por barcaças fluviais até alcançar o oceano pelo Rio da
Prata, na fronteira entre Uruguai e Argentina
.Continue lendo.
Gonzales disse que a empresa espera ter em breve um novo acionista
que ajude a definir o futuro da companhia. Além das minas, a MMX é
responsável pelo projeto Superporto Sudeste, em Itaguaí, região
metropolitana do Rio, considerado um dos melhores ativos do grupo de
Batista. A venda da empresa deve seguir os mesmos moldes das operações
com MPX e LLX, nas quais Batista permanece como acionista minoritário.
As negociações envolvendo a LLX foram anunciadas na quartafeira. A
EIG se comprometeu a injetar R$ 1,3 bilhão em um processo de
capitalização da empresa, assumindo o controle. Segundo a companhia, os
recursos serão usados na conclusão das obras do Porto do Açu, no litoral
norte do Rio.
O presidente da LLX, Marcus Berto, disse em teleconferência com analistas que o
dinheiro
deve entrar em dois ou três meses. Ao divulgar o balanço do trimestre, a
empresa anunciou revisão de custos no projeto logístico MinasRio, de
transporte de minério da região central para o Porto do Açu, com um
aumento de R$ 600 milhões no orçamento.
Com a venda do controle das três melhores empresas, o grupo EBX tem
agora o desafio de resolver a situação de OGX, a mais endividada e
problemática, e OSX, bastante dependente da primeira. "A OGX enfrenta
uma situação delicada.
A produção, que deveria avançar trimestre após trimestre, está caindo. Com isso, a
receita,
que deveria crescer, recuou no segundo trimestre", comenta a analista
de petróleo do Banco do Brasil Investimentos, Carolina Flesch. A receita
da empresa no segundo trimestre foi 20% menor do que a registrada nos
três primeiros meses do ano.
Relatório divulgado pelo Deutsche Bank dá a dimensão do problema: com
R$ 721 milhões em caixa, a empresa tem R$ 710 milhões a pagar no
terceiro trimestre em dívidas com o mercado, com a OSX e com a Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), pela
aquisição dos blocos licitados na 11ª Rodada de Licitações.
Além dos custos operacionais, a empresa ainda terá dispêndio com
investimentos, já que corre para iniciar a produção do campo de Tubarão
Martelo, o que lhe garantirá um pagamento de US$ 250 milhões da malaia
Petronas, sócia no projeto.
Fontes próximas esperam para breve anúncios de reestruturação da
dívida, hoje em R$ 8,7 bilhões, para garantir a sobrevivência da
companhia até a entrada do dinheiro da Petronas. A OGX contratou a
consultoria Blackstone para negociar com os credores.
A situação da OGX impacta diretamente a OSX, que também permanece sob
o controle da holding EBX, responsável pela construção e afretamento de
plataformas para a petroleira do grupo. "As empresas de melhor situação
estão saindo primeiro. Com o tempo, vão ficar no grupo apenas as mais
desafiantes, como OGX e OSX", diz o analista-chefe da Gradual
Investimentos, Paulo Esteves.
Diante da situação das duas empresas, bastante conectadas, o mercado
vê dificuldades para a venda do controle no modelo verificado nas outras
companhias. "A menos que apareça algum grande player internacional,
interessado em entrar no Brasil", pondera Esteves.
No mercado, a expectativa é que a companhia venda participações em
ativos, como estratégia para levantar recursos para seus planos de
investimentos. Além de Tubarão Martelo, a OGX tem um projeto em
desenvolvimento na Bacia de Campos, chamado Rêmora, e reservas de gás
natural na Bacia do Parnaíba. Até o dia 31, assina contrato com a ANP
para nove concessões exploratórias na região Nordeste.
Companhias seguem rumos diferentes na bolsa brasileira
As "empresas X", do empresário Eike Batista, vivem momentos distintos
na bolsa brasileira em agosto. Enquanto as ações da LLX e MMX acumulam
valorização de 73,96% e 20%, respectivamente, somente este mês, os
papéis da OGX, OSX e MPX apresentam queda de 4,55%, 21,88% e 19,42%,
respectivamente, até ontem.
Segundo analistas, até um passado recente, qualquer notícia que
afetasse uma das companhias refletia nas demais, em virtude da crise de
confiança enfrentada por elas. A partir de agora, as negociações
unilaterais - como a da LLX com o Grupo EIG - devem fazer com que as
ações despontem e se descolem uma das outras. Prova disso é que um dia
após a divulgação do acordo, os papéis da LLX registraram alta superior a
10% na bolsa brasileira, enquanto os ativos da OGX apresentaram queda
de 7,35%.
"A estratégia adotada por Eike Batista é clara: encontrar um
investidor estratégico interessado nas companhias e reduzir sua
participação. Isso trará impacto positivo, dado o reforço de caixa. O
mercado gostou da operação da LLX e a próxima empresa que deve trilhar o
mesmo caminho é a MMX", afirma Luiz Gustavo Pereira, estrategista da
Futura Investimentos.
A situação da OGX é um pouco mais complicada. "Os investidores não
devem depositar suas fichas novamente na companhia enquanto não
observarem resultados consistentes no Campo de Tubarão Martelo,
previstos para o segundo semestre", destaca Carolina Flesch, analista do
BB Investimentos.
Além disso, as ações da companhia devem ser retiradas do MSCI, índice
composto por papéis de empresas de mercados emergentes, movimento
compensando, em parte, pelo aumento de participação no rebalanceamento
do Ibovespa, em setembro. "A evolução do preço (da OGX) tem se descolado
dos fundamentos da empresa e esse movimento vai continuar enquanto OGX
fizer parte do índice.
Existe um incômodo grande na bolsa com relação à distorção que as
ações estão causando no índice. Mas não pode mudar de uma hora para a
outra, para não provocar transferência de resultado entre os
investidores. Se houver mudança, tem que ser pensado", diz Paulo
Esteves, analista-chefe da Gradual Investimentos.
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